Vacinas contra o câncer devem ser aprovadas até 2030

esperança

As vacinas de RNA mensageiro (RNAm), que ganharam notoriedade durante a pandemia da Covid-19, agora estão abrindo uma nova fronteira no combate ao câncer. Especialistas preveem a primeira aprovação de uma dose terapêutica para um tumor ainda nesta década.

Leia também: Lula sanciona volta da cobrança do DPVAT, mas veta multa por não pagamento

O Avanço das Vacinas de RNA Mensageiro

“As empresas que tiveram sucesso na pandemia já vinham trabalhando há muitos anos com RNAm no desenvolvimento de vacinas antitumorais, mas redirecionaram os esforços para a Covid-19. Nós, aqui em Bio-Manguinhos, na Fiocruz, também estávamos seguindo essa tecnologia para doses antitumorais, mas nos voltamos para o coronavírus em 2020. Agora retomamos os estudos, inicialmente para câncer de mama”, conta Patrícia Neves, líder científica do Projeto RNA de Bio-Manguinhos.

No mundo, a mais avançada, na última etapa dos testes clínicos, é contra o melanoma, câncer de pele mais agressivo. A dose foi desenvolvida pela Moderna em parceria com a MSD e recebeu o status de “terapia inovadora” pela FDA, nos Estados Unidos. Dados de fase 2 mostraram que a vacina proporcionou uma redução de 49% no risco de morte ou recorrência, e de 62% no de morte ou metástase. Além disso, o laboratório americano está nos estágios finais dos estudos clínicos de uma vacina contra o câncer de pulmão de células não pequenas e de câncer de bexiga.

Receba nossas notícias em tempo real no whatsapp

“A plataforma de RNAm nos permite pesquisar e desenvolver um amplo espectro de vacinas e terapias, desde doenças infecciosas até doenças raras e oncologia. Embora tenhamos visto uma rápida aplicação no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, a pesquisa sobre o câncer tem sido um foco central desde a nossa fundação em 2010. Nosso objetivo é usar a tecnologia para instruir o sistema imunológico a detectar e atacar as células cancerígenas, visando melhorar os resultados dos pacientes”, explica Michelle Brown, vice-presidente e líder de portfólio da Moderna.

Outro laboratório que lidera a criação de imunizantes de RNAm é o alemão BioNTech. Lá, também estão sendo desenvolvidas doses avançadas contra o melanoma e o câncer de pulmão de células não pequenas, além de aplicações para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço, câncer colorretal e adenocarcinoma ductal pancreático (um dos tumores mais letais).

A Revolução na Oncologia

O potencial dessas vacinas é imenso e promete ser um divisor de águas na oncologia. Bruno Filardi, oncogeneticista, comenta: — “Como os estudos clínicos já estão acontecendo, e os primeiros resultados levam cerca de três anos de acompanhamento, em meados de 2026, 2027, já podemos sim ter uma aprovação, então é uma previsão realista. E o potencial dessas vacinas é imenso, vai ser um novo divisor de águas na oncologia.”

João Viola, imunologista e coordenador de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), também celebra os avanços e se mostra otimista com o futuro. No entanto, ele ressalta a necessidade de tornar essas terapias acessíveis a todos: — “Na maioria das vezes, essas novas terapias têm um custo muito alto e ficam restritas a populações específicas que eventualmente conseguem um maior acesso. A grande discussão é conseguir dar esse acesso de uma forma equânime, igualitária, a todos que precisam.”

Como Funcionam as Vacinas de RNA Mensageiro

As vacinas de RNAm atuam fazendo com que o sistema imunológico reconheça o tumor — algo que não acontece naturalmente porque as células cancerígenas têm uma capacidade de sinalizar para as imunes que são “saudáveis” e, com isso, escapar das defesas do organismo.

“Para destruir a célula cancerígena, tenho que apresentar para o nosso sistema imune uma proteína que veio de dentro dessa célula, para que ele passe a reconhecê-la e a atacá-la. Como cada tumor é único, tem seu padrão de mutações muito específico, é preciso analisá-lo e identificar uma proteína defeituosa, mas que também tenha essa grande capacidade de interação com o sistema imunológico, que será usada na vacina”, explica Filardi.

A tecnologia de RNAm permite que, em vez de dar diretamente a proteína para induzir a resposta imune, seja dado o RNA que codifica ela. Esse RNA é incorporado nas células, que passam a produzir uma quantidade boa de proteínas para induzirem a resposta imune contra o tumor.

Desafios e Perspectivas Futuras

No Brasil, a Fiocruz foi escolhida pela OMS em 2021 para impulsionar a plataforma de RNAm. Segundo Patrícia Neves, a instituição agora foca no combate aos tumores, inicialmente com câncer de mama triplo negativo, um tipo bastante difícil de tratar.

“Como trabalhamos para o SUS, procuramos esses alvos que chamamos de universais, por serem proteínas encontradas em diferentes pacientes com aquele tumor. Identificamos oito alvos por um processo de bioinformática e agora precisamos validá-los, mostrar que realmente essas proteínas aparecem nos tumores brasileiros e geram uma resposta imune”, detalha Neves.

O desafio é encontrar as proteínas certas que tenham efeito imunoprotetor para diferentes tumores. A identificação e testagem dessas proteínas demanda muito investimento, essencial para incorporar essa tecnologia na rede pública.

Siga a gente no Google News: Clique aqui

Sarah Oliveira
Sarah Oliveira

Uma amante das palavras em uma jornada incessante de descoberta. Originária de São Paulo, encontro nas nuances da linguagem minha paixão. Com formação em Comunicação, tenho o prazer de guiar você pelos intrincados caminhos das notícias, oferecendo uma perspectiva única sobre o que acontece no Brasil e no mundo.

Artigos: 2185

Deixe um comentário