Queda de aeronave no Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009 deixou 228 pessoas mortas
A Justiça francesa absolveu, nesta segunda-feira, a Air France e a Airbus pelo acidente com o voo 447, que deixou 228 mortos. A companhia aérea e a fabricante da aeronave enfrentavam a acusação de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Quase 14 anos depois da tragédia, o tribunal considerou que, apesar de cometerem “falhas”, não se “pôde demostrar (…) nenhuma relação de causalidade segura” com o acidente. As audiências duraram nove semanas e foram encerradas em 7 de dezembro do ano passado.
A decisão foi recebida com desapontamento pelos parentes das vítimas. Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447 (Cooperação e Solidariedade AF447), que representa os parentes das vítimas, afirmou: “Esperávamos um julgamento imparcial, não foi o caso. Estamos enojados. O que resta desses 14 anos de espera é desespero, consternação e raiva.”
Na sala de audiência, os parentes das vítimas, as equipes da Air France e da Airbus e jornalistas ouviram o anúncio da absolvição, que fez com que alguns parentes das vítimas ficassem de pé. O presidente da corte continuou a leitura da decisão em um silêncio sepulcral.
O advogado de partes civis do julgamento, Alain Jakubowicz, lamentou que as duas companhias tenham sido consideradas “responsáveis, mas não culpadas”. Ele enfatizou que as duas companhias “são responsáveis por esta tragédia”. Jakubowicz disse que irá analisar o julgamento e ver o que fazer, mas que a responsabilidade da Air France e da Airbus deve ser lembrada.
O tribunal considerou que a Airbus cometeu “quatro imprudências ou negligências”, em particular por não ter substituído os modelos de sondas Pitot chamadas “AA”, que pareciam congelar com maior frequência, nos aviões A330 e A340, e por “reter informações”. Já a Air France cometeu “imprudência culposa”, relacionada com os métodos de distribuição de uma nota informativa dirigida aos seus pilotos sobre a falha das sondas.
No entanto, segundo o tribunal, “uma relação de causalidade provável não é suficiente para tipificar um crime. Neste caso, como se trata de falhas, não foi possível demonstrar nenhum nexo de causalidade com o acidente”.
A Air France emitiu um comunicado em que “toma nota do julgamento” e lembra a memória das vítimas, expressando “sua mais profunda solidariedade a todos os seus entes queridos”.
Já a Airbus considerou que a decisão judicial foi “coerente” com a decisão proferida no final da investigação em 2019. O grupo expressou ainda sua “compaixão” aos familiares das vítimas e reafirmou seu “total empenho em termos de segurança da aviação”.