O chefe de Gabinete de Carlos Bolsonaro, recebeu mais de R$ 2 milhões em créditos; MP vai investigar se o vereador se beneficiou
O chefe de Gabinete de Carlos Bolsonaro, Jorge Luiz Fernandes, recebeu mais de R$ 2 milhões em créditos provenientes das contas de outros seis servidores nomeados pelo filho “zero dois” do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A investigação foi realizada pela equipe do Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do Ministério Público do Rio (MP-RJ).
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A movimentação financeira é a prova mais consistente obtida pela 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada. O levantamento, autorizado pela Justiça fluminense, também demonstrou que Jorge Luiz Fernandes usou contas pessoais para pagar despesas do filho “zero dois”. O MP-RJ quer saber se os pagamentos foram eventuais ou regulares. No caso da segunda situação, ficará provado que Carlos Bolsonaro se beneficiou diretamente do desvio dos salários de seus servidores.
O laudo já produzido é suficiente para imputar o crime de peculato ao chefe de Gabinete. Entre 2009 e 2018, Jorge Luiz Fernandes recebeu créditos dos seguintes funcionários: Juciara da Conceição Raimundo, Andrea Cristina da Cruz Martins, Regina Célia Sobral Fernandes, Alexander Florindo Batista Júnior, Thiago Medeiros da Silva e Norma Rosa Fernandes Freitas. Jorge Luiz Fernandes é casado com uma das depositantes, Regina Célia, e é cunhado de Carlos Alberto Sobral Franco, que foi lotado no gabinete de Jair Bolsonaro quando o ex-presidente era deputado federal.
Jorge Luiz Fernandes, também conhecido como Jorge Sapão, trabalha no gabinete do “zero dois” desde o primeiro mandato, em 2001. Visto por funcionários da Câmara como um segundo pai para Carlos Bolsonaro, que frequenta a casa do chefe de Gabinete.
O Laboratório de Lavagem investigou um total de 27 pessoas e cinco empresas ligadas a Carlos Bolsonaro. A investigação do MP-RJ sobre a prática de rachadinha foi iniciada com base em reportagem publicada pela revista “Época”, em junho de 2019, revelando que sete parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher do ex-presidente e sua madrasta, foram empregados no gabinete de Carlos Bolsonaro, mas não compareciam ao trabalho.
Os promotores apuram se os funcionários devolviam parte do seus salários ou o valor integral para o vereador, a chamada “rachadinha”. Quatro destes servidores, ouvidos pela “Época” em setembro de 2021, admitiram que não trabalhavam no gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara do Rio, mesmo tendo sido nomeados e com os salários em dia.
Um dos principais alvos da investigação é a situação de Marta Valle, professora de educação infantil e cunhada de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro.
Marta Valle, que mora em Juiz de Fora, em Minas Gerais, foi lotada no gabinete de Carlos Bolsonaro por sete anos e quatro meses, entre novembro de 2001 e março de 2009. O salário bruto dela era de R$ 9,6 mil, mas com os auxílios, chegava a R$ 17 mil. De acordo com a Câmara de Vereadores, ela não teve crachá como assessora. Segundo um laudo do Laboratório, Marta Valle fez, entre junho de 2005 e março de 2009, um total de R$ 364 mil em saques com cartão logo após receber os seus proventos.
Procurada pela “Época”, Marta Valle negou ter trabalhado para Carlos Bolsonaro. “Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que trabalhou”, disse na ocasião.