Com bolsonarismo em crise, prefeito de São Paulo prega voto útil contra Boulos em 2024

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Na mais recente pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto para as eleições do próximo ano, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ocupa a segunda posição. Ele adotou a estratégia do voto útil em resposta ao pré-candidato à presidência, deputado federal Guilherme Boulos (PSol), em vista da possibilidade de Jair Bolsonaro (PL) retirar seu apoio a Boulos.

Recentemente, o prefeito caracterizou Boulos como “de extrema esquerda”, alegando que a cidade sofreria com sua gestão e instou aqueles que desejam impedir a vitória do deputado, que também é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a se unirem.

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Essa mudança de postura ocorreu em meio a sinais de que a relação entre Nunes e Bolsonaro, que vinha sendo construída, estava se desgastando. Embora o prefeito queira manter o apoio do ex-presidente, agora enfrenta o desafio de fazer com que Bolsonaro aceite um relacionamento político mais amplo, no qual seu grupo não seja o protagonista.

Desde o início do ano, Nunes tem buscado evitar que um candidato bolsonarista concorra nas eleições de 2024. Durante esse período, ele se reuniu três vezes com o ex-presidente, solicitando seu apoio. Em uma dessas reuniões, em julho, Nunes afirmou que o apoio de Bolsonaro seria “ótimo”.

No entanto, a relação azedou na última semana, pois os aliados de Bolsonaro esperavam que Nunes oferecesse reciprocidade, abrindo a Prefeitura para a nomeação de indicados pelo ex-presidente em cargos de gestão, o que não ocorreu. Além disso, o movimento de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de buscar um candidato não bolsonarista para o cargo de vice-prefeito de Nunes, aumentou o distanciamento entre eles. Valdemar sugeriu Marta Suplicy, secretária de Nunes e ex-membro do PT.

Diante dessa situação, os bolsonaristas começaram a enviar recados alertando sobre os riscos de uma ruptura na relação.

Uma declaração feita pelo prefeito na terça-feira (5/9) durante uma palestra para estudantes da Faap, na qual ele afirmou que não era próximo nem de Bolsonaro nem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi vista como o ponto crítico.

Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro e um dos principais articuladores da aliança, declarou que “ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante. A era dos gafanhotos acabou”, dirigindo-se a Nunes.

Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, ao lado de Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República (foto: Alesp - reprodução Tag Notícias)
Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, ao lado de Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República (foto: Alesp – reprodução Tag Notícias)

Publicamente, no entanto, Nunes minimiza as especulações sobre o desgaste na relação. Durante as celebrações do Dia da Independência no Anhembi, na quinta-feira (7/9), o prefeito afirmou que ainda não tem proximidade com Bolsonaro, mas espera construir essa proximidade e contar com seu apoio nas eleições.

A relutância de Nunes em se aproximar claramente de Bolsonaro é motivada por avaliações de seus aliados mais próximos. Eles se baseiam em uma pesquisa interna realizada no início do ano, que indicou que a proximidade com o ex-presidente pode fazer com que o prefeito perca mais votos do que ganhe. O secretariado de Nunes tem resistência ideológica às bandeiras políticas defendidas por Bolsonaro e teme que o prefeito seja obrigado a defendê-las, mas eles tolerariam uma simples declaração de voto de Bolsonaro a favor de Nunes.

Além disso, a possível prisão de Bolsonaro devido às múltiplas investigações em curso contra ele também leva os aliados de Nunes a aconselhar o distanciamento de Bolsonaro. O primeiro Datafolha sobre as eleições municipais de 2024 indicou uma rejeição de 68% do eleitorado a um candidato apoiado pelo ex-presidente.

Quando questionado sobre essa rejeição a Bolsonaro, Nunes minimizou, afirmando que, independentemente de qualquer apoio, ele será o prefeito e governará a cidade, caso vença as eleições.

Voto útil contra Boulos

Com a possibilidade de Bolsonaro apoiar outro candidato, Nunes está conclamando os eleitores de “centro, centro-direita e direita” a se unirem contra Boulos. Recentemente, ele se referiu ao deputado federal como sendo de “extrema esquerda”. Sua estratégia é associar Boulos ao radicalismo, destacando sua ligação com o movimento de moradia que promove invasões de terrenos desocupados.

Essa estratégia de se posicionar como um candidato de centro e tentar retratar Boulos como um extremista já foi usada com sucesso no segundo turno das eleições de 2020, na campanha de Bruno Covas (PSDB), que tinha Nunes como vice.

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Nunes também está articulando para que seu partido, que possui três ministérios no governo federal, peça a Lula que se mantenha afastado das próximas eleições, a fim de tentar conter o crescimento de Boulos, caso o presidente o apoie. Boulos já conta com o apoio de Lula desde o ano passado, apesar da resistência de alguns membros do PT paulistano ao seu nome.

Daniel Vicente
Daniel Vicente

Sou um entusiasta da informação, natural de Brasília. Atualmente, mergulho nos estudos de Ciências Políticas. Aqui, você encontrará análises aprofundadas sobre política, economia e assuntos globais. Vamos explorar juntos o vasto universo do conhecimento!

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